quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Amigo oculto

Nunca vou entender como o Universo se comporta e se porta de tanta bipolaridade.

domingo, 23 de outubro de 2011

Epíteto (II)

Hoje quis escrever que eu estou feliz.

E o sentimento aflora sem proporção com a razão. Essa razão de um abraço do tamanho do conforto de um edredom numa manhã chuvosa. Choro. Rio. Me arrepio quando o mundo se reduz a um ao escutar o minimalismo de três palavras sussurradas no ouvido. Aquela voz que é suficiente pra mostrar até os sisos não nascidos num sorriso maior que o mundo.
Sinto como se tivesse entrado em um banho quente, no inverno ou tomado uma ducha fria, no verão. Reparei que só escrevo quando estou indiferente ou não no meu melhor estado de espírito, como um poço indireto onde não há água limpa porque já foi tudo impregnado por chuvas de tristeza e desesperança. Mas a manhã me acorda branca ou colorida do mesmo jeio: feliz.
Suspiro. Respiro sua respiração no travesseiro e não há ar que me preencha melhor os pulmões. O tempo-espaço mais valioso é teu abraço. Teu sorriso é camomila em chá. Minha preocupação é quando não o há, por culpa até minha somada a sua personalidade explosiva. Não falo. Você reclama. Me trata feito filha e grita. Me beija na testa e remonta o tempo-espaço perfeito em instantes.
Descrevo por mim. Porque é tudo. É, porque sinto. Não calculo, vai de cabeça. Não é exato. É maior que a distância, que a preguiça, que nós dois juntos e um elefante tocando violino. Talvez por ser um finito perdido em traços de compasso numa circunferência sem diâmetro. O espaço que me cabe e te cabe, só.

Hoje quis escrever que amar é impressionante.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Rascunho de um dia cinco

Sinto-me culpada por alguns pensamentos em silêncio, jogados no meu teto escuro à noite ou em qualquer momento do meu dia reservado a fixar o olhar no nada. Sinto uma inércia. Não confio em suposições que muitas vezes levo em conta por motivos que acabam por se confundir com o cansaço do cotidiano. Queria poder abraçar meu travesseiro e entender as coisas ao redor. Queria um lugar em casa pra poder me esconder; me esquecer.
Queria poder acordar todo segundo e sentir as coisas como no primeiro espreguiço de um fim-de-semana. Misturar sono e sonho com café e leite, estalando os dedos do pé e sentindo o até-logo do conforto do colchão para se levantar para a vida. Essa parte manhã-pós-cama do dia é tão confortavelmente descompromissada; esteja quente, esteja fria. Queria poder correr pra esse momento toda vez que precisasse durante o dia;

...mas o tempo é egocêntrico.

domingo, 29 de maio de 2011

Espantando fantasmas

Uma das melhores sensações que eu posso sentir pela manhã (além de acordar no quentinho do abraço de alguém que amo) é descobrir que há café pronto na cozinha (e leite).

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Pequena lógica de um preguiçoso

A começar que um ser preguiçoso é, caracterizado, pela preguiça, não como estado, mas como parte de sua personalidade viciada. Portanto, sendo e não estando.
Digo que esses preguiçosos nunca deixam de fazer nada, apenas substituem algumas tarefas cotidianas demais (não trabalhosas demais) por um súbito momento em seu universo sem inicio, meio ou fim. Esse universo que é particular; egoísta mesmo. Preguiça não é amor para se dividir com outras pessoas.
Também digo que o ser preguiçoso é um estilo de vida extremo proporcional, levando em conta que, o quanto mais rápido se faz, mais rápido se há para não fazer.

Mas isso varia conforme a dependência de cada um ao vicio do descanso e a criatividade de seu ócio.

sábado, 14 de maio de 2011

Da mesmice em prosa

No trânsito, caracterizado no habitual de sempre. Os mesmos carros, as mesmas luzes, a mesma bossa de buzinas... não. É uma má relação do conjunto arrogante de buzinas com a mistura de sons tão confortáveis. Estaria mais pra um samba mal ensaiado, rebaixado e mal tocado. E como aquela música ruim mais tocada naquela rádio que não se pode desligar quando já se está de saco cheio do ritmo do mundo, acostuma-se e se aprende a ignorar o costume.
Ainda é sempre o mesmo trajeto, com o mesmo transito habitual das 18h, os mesmos carros, as mesmas luzes, o mesmo samba mal ensaiado de buzinas aflitas por escapar do universo do fim de tarde.

Nos ônibus, são as mesmas pessoas diferentes, ignorando as presenças de sempre acostumadas a compartilhar a inconstância dos pneus no asfalto desgastado da cidade. Dividindo o espaço em pé com uma bolsa cá, um espirro lá, uma mochila aqui e a cada ponto de ônibus o silêncio do mundo pressiona meus ouvidos. E é desconfortável dividir um espaço tão pequeno com pessoas anônimas, que se atem nem mesmo ao pensamento pra não ocupar mais espaço.
É incomodo o abismo entre alguém tão próximo no balanço inconstante do universo do fim de tarde no ônibus. Seguimos o mesmo trajeto para o mesmo destino por alguns instantes -quando o que se quer perde a especificidade, é mais fácil de achar interesses semelhantes, como o de querer chegar em casa, simplesmente.
Ainda no trajeto de sempre, no mesmo transito caracterizado, dividindo o asfalto desgastado com os mesmos carros, com as mesmas luzes e prestigiando com desgosto do mesmo samba mal tocado de buzinas com interesses em comum.

É entediante. Mas é o tédio acostumado que se aprende a ignorar.

Eis que se arranja um acento para descansar da mesmice de cada dia posta sobre os ombros, e pensar sobre outra coisa que tome lugar na sua cabeça do acento que você estava mentalizando conseguir há alguns momentos.
Mesmo rodeado de pessoas, de nomes anônimos, de histórias, de silêncio, se considera sozinho. Dividindo o momento com a inércia do ônibus, o banco do ônibus e a janela molhada de chuva do ônibus, com pensamentos em função exponencial. Sozinho como a falta de presença. Melancolicamente sentindo a presença da falta. Mas sem estar acompanhado da tristeza.
É como ser uma estrela em um céu urbano à noite. Parecendo solitária por conta das luzes das ruas. Parecendo solitária à distância.

Como se sentisse em um ônibus sem ponto final. Em um texto sem conclusão.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Capítulo dez, livro undécimo

"Um dos maiores enigmas do mundo é como funciona a tristeza. Ficar muito triste pode ser parecido com ser queimado, não só por causa da dor descomunal, mas também porque a tristeza pode se espalhar por sua vida como a fumaça de um enorme incêndio. Você pode achar difícil enxergar alguma coisa além de sua própria tristeza, assim como a fumaça pode encobrir uma paisagem a tal ponto que tudo o que você pode enxergar é a escuridão. Você pode descobrir que as coisas felizes são maculadas pela tristeza, do mesmo modo que a fumaça de um incêndio deixa tudo com cor de carvão e cheiro de queimado. E pode descobrir também que, se alguém despeja água em cima de você, você fica molhado e perturbado, porém não curado da tristeza, assim como um corpo de bombeiros pode abafar o fogo, mas não recuperar o que foi destruído."

domingo, 27 de março de 2011

Descrição

Eu costumava ter medo do escuro. Não que eu o tenha superado, vira e mexe me vem aquela nostalgia em qualquer breu repentino. Mas eu não tenho mais aquele receio de ir ao banheiro no meio da noite ou de abrir o olho quando o ar-condicionado desarma e me acorda. Acho que era só uma questão de costume.
Medo é um desses sentimentos que vem carregados de incertezas, mas a partir do momento que familiariza-se, muda de nome. Eu sempre fui um pouco receosa quanto a incertezas e pouco cética nesse quadro. O escuro sempre foi uma dessas incertezas. Quando eu to no escuro eu fico mais cautelosa; é como se tudo ao meu redor se reduzisse a uma expansão monocromática e só reconhecida ao tato. É meio normal sentir a cautela como resposta a qualquer coisa que precise ser sentida para re(se)conhecer; é normal pra mim.
Não sei exatamente como tudo se encontra, mas sei onde estão. Como se eu levantasse meus braços assim que eu apagasse a luz do abajur pra dormir e só soubesse que eles estão ali porque fazem parte de mim, mas só os visse como um amontoado de sem-cores.
Demanda um pouco de tempo, mas logo o escuro vai tornando-se composições de cinza e luzes da rua num jogo de silhuetas reconhecíveis; e fica mais claro. Claro demais ao ponto de se fechar os olhos para realcançar o escuro não acostumado. Só porque a incerteza as vezes é mais confortável e acostumável que qualquer certeza imprevista, mesmo pelo medo.

O escuro mais escuro. O escuro claro demais. É só questão de costume ao que não se vê e ao que se está acostumado a ver.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Interlúdio

(Não me olhe escrevendo)
Me encontro no egocentrismo da metalinguística à noite, dividindo palavras soltas com a luminária presa ao teto do meu quarto e água e sais com o travesseiro, que me acompanham até dormir. Eu gosto muito de falar sozinha. Digo, eu falo muito sozinha, eu devo gostar de falar sozinha pra fazer isso com frequência.
Minha própria companhia me é agradável, momentaneamente. Não tenho de ter a preocupação de ser coesa ou não repetitiva pras prateleiras. Não me respondem. Nem me pedem pra explicar. Só tento ser coesa pra mim mesma.
Parece mais fácil que pras outras pessoas. Vejo sentido onde ninguém enxerga. Mas as vezes passa tão desapercebido que o mundo todo o cumprimenta, menos eu. Culpo a desatenção. Ou a minha indiferença quanto a quase tudo. Me distraio com qualquer ideia e esqueço de falar. Ou desisto de falar. Não vou insistir em apresentar sentido pra quem não o quer cumprimentar, fica uma situação meio chata e irritante.

Tipo não escutar até o final músicas consecutivas; porque não se sabe exatamente o que se quer escutar; mas sabe que se quer escutar alguma coisa ao invés de nada.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Pra não começar o ano sem título

"Pra quem não sabe, 'ventura' significa sorte, boa ou má. É assumir que não se alcança satisfação que seja duradoura sem uma dose considerável de risco. Significa 'de acordo com o que se vê', e assim queremos nossa música. Um amigo sabiamente disse que um disco nada mais é do que uma fotografia de um determinado momento da carreira de uma banda. Na foto de 'Ventura', o que se vê é a mesma vontade que havia em nossos discos anteriores, de se fazer música de acordo com o que somos, mesmo que no momento seguinte sejamos uma outra coisa, mesmo que pareça fora de sintonia com nossos contemporâneos. É uma grande responsabilidade saber que cada passo que damos, que cada disco que lançamos, fará parte de nossa história. Não nos cabe dizer do que se trata cada música, qual é a história por detrás, não existe legenda ou certo e errado, as certezas, na verdade, são bem poucas. Tudo é apenas uma sugestão, como na capa. 'Ventura' é sorte para quem quer ver, é fortuna para quem a espera. Nossas músicas seguem apenas o norte que aponta o coração e é por sabermos disso que novamente içamos nossas velas a espera de um vento favorável, um vento bom que nos leve adiante."

E assim disse Bruno Medina.